Sobre enterrar e viver de lembranças.

Descobri que morri. Não sei se foi em uma quinta-feira de 2015. Ou se foi no outono do ano seguinte. A melhor teoria é de que foi aos pouquinhos. Fui morrendo todo dia por fazer todas as coisas necessárias mas que não me faziam feliz. E o que era vazio se tornou maciço, logo virou monstro, que me sugou. Fucei minhas redes sociais, desenterrei fotos do meu Facebook, frases absurdas do meu Twitter. E aí vi que você também tinha morrido. E junto todas as nossas histórias, que nem eram tão longas assim, mas que eram nossas e existiram. Nossos amigos também. Hoje já nem me lembro do som da risada deles.

Descobri que renasci. Mas isso também foi aos pouquinhos e há muito tempo atrás. Desconfio que a cada morte nascia uma nova eu. Que a cada noite, quando eu fechava os olhos pra dormir, algo meu ficava pra sempre naquele dia. No começo achei que ficava imortalizado. Mas depois percebi que ficava enterrado. Como o dia em que você disse que eu era louca. Bom, abri os olhos e eu tinha algo novo, um sopro, um embrião, algo nascendo.

Sorte a nossa poder acordar todos os dias e começar uma história diferente. No final das contas é só o que sobra, as histórias, guardadas em lembranças meio tortas e bem pessoais. Como o dia em que todo mundo acampou na praia e choveu. E quando eu fiquei te esperando depois do trabalho mas com vontade de ir embora e no final das contas foi um noite legal. E aquela manhã quando você disse que ia embora e que era pra eu ficar.

Sorte a minha que agora eu gosto de outras coisas. Daquela época sobraram só algumas músicas, uns 3 ou 4 livros e aquele lugar de onde costumávamos pedir comida nas quintas-feiras. Não gosto mais de acampar. Tenho novos amigos. Até o lençol agora é diferente.

FENIX

 

 

 

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